terça-feira, 7 de julho de 2009

Bailarinas do Vento

Dizem que são apenas folhas e talvez sejam mesmo. E se não forem? Talvez elas não sejam, afinal. Apego-me a essa hipótese, enganado ou não, parece-me mais agradável imaginar que folhas não são apenas folhas.

Elas, a meu ver, são bailarinas do vento. Balançam ao sabor de seu dono e deixam-se levar de um lado a outro, acrescentando fina beleza ao passar.Esbanjam leveza ao cortar o que não se vê e imperam firmes e fortes sobre as correntes de ar e os redemoinhos. Estes servem aquelas e elas se aproveitam destes para adornar ainda mais o seu doce e deslumbrante vôo. Flutuam sobre os segundos, minutos, horas, sobre o tempo, despreocupadas como se não houvesse depois e amanhã.

Caprichosas como só elas, submetem as leis universais como se não fossem senão crianças ingênuas. As bailarinas são livres como os pássaros, mas ao contrário deles não podem ser trancafiadas por ninguém quem quer que seja. Despistam seus pedradores com passos de tango e valsa e, amiúde, com gingado, beleza e samba nos pés, amansam aquele que outrora as perseguia.

Navegam; navegam até encontrar com a relva mais verde e ali repousar o sono dos justos. Humildes, vivem longe do olhar comum. Belas, não escapam ao olhar atento. Olhar, inclusive, que nesse instante empenha-se em lembrar o que não pode ser esquecido. Olhar, por fim, que reconhece e insiste: As folhas são bailarinas do vento.

Praça

A vida é boa, se e somente se a vida é praça. Praça cercada por pessoas, amores e sons. Eu gosto da agitação. Não nasci, de fato, não nasci para viver no marasmo dos dias eternos.
Já me esquecia do chafariz, monumento simbólico sem o qual a praça é tudo menos praça. E como a praça é minha, deixe-me alimentar a minha própria ilusão.
Quero lagos e cachoeiras na minha praça. Quero patos e galinhas, cisnes e gatinhas. Quero sonhos e alegrias, verdades e mentiras. Quero que seja, portanto, a praça mais real e que, no entanto, não seja senão devaneio. Como tal, seja a inalcançável utopia, metrificada pelas carícias irretocáveis do tempo e das memórias, que foram e haveriam de ser.
Sussuros e fofocas à meia-noite, ao meio-dia, às 6 da tarde, às 10 da manhãzinha. Bem-vindas a qualquer hora! Gostaria, se não fosse pedir muito, de violeiros, de mariachis e de pianistas. Afinal, a doce melodia é o balanço que deve reger as nossas vidas.
Na minha praça, as garotas contemplariam as serenatas mais belas e seus sobrenomes seriam flores. Rosas, margaridas, violetas... Já os rapazes seriam educados à etiqueta passadas. Seriam corteses, verdadeiros cavalhareiros, e mesmo assim guardariam latente, só para ocasiões especiais, aqueles trejeitos infantis tão necessários em homens completos.
A vida seria um riso gostoso. O amor - ah o amor! - só se fosse eterno. Essa seria, pois, a minha Pasárgada. Aqui a vida é uma praça. E a praça é a vida e alegria de quem vive por aqui.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

E assim será. E será assim

Mais um dia mais ou menos. Acordei, naturalmente, e me preparei para um dia como outro qualquer. Adivinhem? Foi mesmo um dia qualquer, daqueles em que o sol é amarelo e o céu somente azul.
Não presenciei milagres. Não contemplei eclipses. Não fiz aniversário. Já lhe disse e torno a repetir: foi um dia qualquer!
Nadando contra a maré – costume reincidente, aliás -, eu me preocupo com o sal do mar. Quanto às ondas, que se quebrem e se martelem, não lhes empresto senão um olhar salpicado de patológica indiferença. Eu não estou esperando grandes acontecimentos. Na verdade, eu me deslumbro com os pequenos, fazendo deles os meus grandes. Rendo-me, enfim, aos pormenores da existência, os quais me levam para perto do meu Criador.
O ciclo se repete na simplicidade singela de viver a vida pequena como se fosse parte de algo maior. Eterna sinfonia, é nos seus movimentos delicados que balanço ao ritmo de um amor mais sublime que o meu. Mais um dia qualquer e mais um dia feliz. E assim será. E será assim.

Em silêncio, ela fala

A voz queria falar,
Mas não a deixaram.
Com porretes e armas,
Tentaram lhe calar.

Idade Média Brasileira,
Oh Santo Ofício Militar!
Sem monges e frades,
e mesmo assim cheia de maldades.

Questionar não era uma opção,
Cale-se!
Protestar não era a saída,
Perdição!

Caminhos tortuosos,
Jamais apagados.
Amordaçados,
Porém nunca ludibriados.

Resquícios eternos,
Que sejam varridos!
A nós impostos,
Por aqueles bandidos.

O faroeste acabou,
E as memórias ficaram,
Na mente suicida,
Daquele que te rejeitaram.

Calaram a voz,
E ela continuou falando.
Em silêncio talvez,
Em face de tamanha estupidez.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Futuro?

Cuidado! O elo passado-presente preocupa futuro.

Presente: Ô, passado, deixa-me só. Não quero ficar lembrando.
Passado: Não é tão simples assim. Eu sou você. Não posso ir embora.
Presente: Deixa de conversa furada e vai embora antes que eu chame a polícia.
Passado: Pois bem, isso é ótimo. Eu estava rememorando há pouco alguns flashes curiosos. Lembra daquele dia em que você...
Presente: Relaxa, meu irmão. Eu estava brincando. Na realidade, eu não vou chamar polícia alguma. Guarde os episódios para você. Se quiser, ainda, escreva-os em prosa e lucre com isso.
Passado: Eu acho que vou deixar para uma próxima. Quem sabe?
Presente: Eu sei. Você sabe. Eu espero que mantenha entre nós. O nosso segredinho particular. Melhores amigos, não é mesmo?
Passado: Sim, com certeza. Eu não te disse que eu era uma parte de você. Enfim, algum reconhecimento da sua parte.
Presente: Disponha, meu caro. De qualquer forma, eu não quero me livrar de você, mas bem que você poderia viajar um pouco, descansar, tomar um copo da água. Sombra e água fresca. Afinal, você merece depois de tanta história juntos.
Passado: Olha, bem que eu gostaria, mas não posso.
Presente: Como assim, meu velho? Não pode? Querer é poder. Portanto, queira!
Passado: Não estou gostando do seu tom. Velho? Como ousas? Não sou obsoleto coisa nenhuma. Sou fruto dos seus desejos e decisões e, a meu ver, eles praticamente são os mesmos.
Presente: O quê? Está me chamando de criança, fanfarrão? Ora, vou mostrar-lhe do que sou capaz.
Passado: Risos e mais risos para você, compadre. Os 19 anos contigo são suficientes para medir a sua capacidade que, por sua vez, é bem inexpressiva.
Presente: Você vai ver. Deixe-me...
Passado: Já vi. Estou vendo. O mesmo garotinho impulsivo de sempre. Venha, rapaz, mostre-me a sua “grandiosa” capacidade.
Presente: Deixa para lá. Eu não queria mesmo.
Passado: Olha só o pobre coitado. Cabisbaixo, medroso, calado... o retrato que melhor ilustra o seu perfil.
Presente: Vai ficar me analisando até quando? Arreda o pé daqui. Só quero ficar em paz. Será que peço demais?
Passado: Sem mim, você não é você. Você é vazio. Sem mim, você é um livro de zero páginas, contendo zero capítulos, descrevendo zero momentos singulares. Não percebe?
Presente: Se você está dizendo. Quem sou eu para discordar?
Passado: Presta atenção. Nós podemos coexistir em harmonia.
Presente: Eu sempre fui meio individualista, companheiro. Não vai dar certo, não.
Passado: Eu te conheço bem. E, além do mais, nós podemos ser um indivíduo só, conquanto que não me negue.
Presente: Explica melhor, por favor.
Passado: Em outras palavras, eu e você, passado e presente, formaremos algo novo. Nós seremos, juntos, o futuro.
Presente: Futuro?
Passado: Exato. Seremos o futuro. O amanhã nos reserva grandes conquistas. Aceite-me, não me negue, e o amanhã será seu, ou melhor, nosso.

Convencido, o presente não mais questionou o passado. Viu o amanhã, mas talvez nunca verá o amanhã que poderia ter sido.

terça-feira, 17 de março de 2009

Aonde está a poesia?

Aonde está a poesia? Em qual beco se escondeu? Qual é o seu segredo? Fale mais alto, não ouço a sua voz. Por debaixo da superfície das palavras, por de trás da alma, dentro do coração, aonde se esconde?
Revela-me a sua identidade!? Fale para mim, fale mais alto, conta em segredos a sua verdade. Com carícias de amor toca esse coração brando e manso, desperta nele o desejo ainda disforme.
Não se escondas mais, meu amor. Sem você, minha fala é prolixa e vazia, racional dissertação.
Liberta-me disto tudo. Seja o raiar de luz que me guia docemente pela escuridão. Suspira em meus ouvidos, hoje e amanhã, as suas verdades. Arco íris da vida, sutil respirar, eloqüente imaginação. Poesia, como é que não te vêem? Se vêem, porque não te enxergam?
Não me abandone jamais.

Palavras e mais palavras, porém se ti, palavras vazias.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Brasil, Planeta Bola

Bola que pula, que dança, que gira e não se cansa. O Brasil é o seu centro. Gira, gira, de dia e de noite, 365 dias, em torno de nós e não pare nunca mais.
Despedaça o preconceito; rico e pobre, negro e branco, que sejam todos amantes da bola antes de tudo. Com sua mágica própria, desfile sobre as passarelas da vida, esbanjando gingado, no ritmo do samba. Tu és a variante popular da língua brasileira falada em escritórios, escolas, igrejas, bares e vielas.
Elevou os seus maiores amantes a cargo de príncipes sobre os quais colocasse um único rei, o Rei Pelé, o rei brasileiro. Teu magnetismo, expressos naqueles humildes pés, foi a maior expressão da arte, um lampejo do paraíso aqui na Terra.
Muito embora tenha nascido em outro continente, atravessou os mares para encontrar nesse país o seu lar. Desde então, geração após geração, e tu és a única paixão. Paixão inata e perene, própria do brasileiro, que ainda em estágio prematuro é vítima dos seus encantos. Bola que pula, que dança, que gira e não se cansa, essa é a sua casa. Seja bem-vinda. O nosso país é seu e você é o nosso Planeta. Brasil, planeta bola.