quinta-feira, 19 de março de 2009

Futuro?

Cuidado! O elo passado-presente preocupa futuro.

Presente: Ô, passado, deixa-me só. Não quero ficar lembrando.
Passado: Não é tão simples assim. Eu sou você. Não posso ir embora.
Presente: Deixa de conversa furada e vai embora antes que eu chame a polícia.
Passado: Pois bem, isso é ótimo. Eu estava rememorando há pouco alguns flashes curiosos. Lembra daquele dia em que você...
Presente: Relaxa, meu irmão. Eu estava brincando. Na realidade, eu não vou chamar polícia alguma. Guarde os episódios para você. Se quiser, ainda, escreva-os em prosa e lucre com isso.
Passado: Eu acho que vou deixar para uma próxima. Quem sabe?
Presente: Eu sei. Você sabe. Eu espero que mantenha entre nós. O nosso segredinho particular. Melhores amigos, não é mesmo?
Passado: Sim, com certeza. Eu não te disse que eu era uma parte de você. Enfim, algum reconhecimento da sua parte.
Presente: Disponha, meu caro. De qualquer forma, eu não quero me livrar de você, mas bem que você poderia viajar um pouco, descansar, tomar um copo da água. Sombra e água fresca. Afinal, você merece depois de tanta história juntos.
Passado: Olha, bem que eu gostaria, mas não posso.
Presente: Como assim, meu velho? Não pode? Querer é poder. Portanto, queira!
Passado: Não estou gostando do seu tom. Velho? Como ousas? Não sou obsoleto coisa nenhuma. Sou fruto dos seus desejos e decisões e, a meu ver, eles praticamente são os mesmos.
Presente: O quê? Está me chamando de criança, fanfarrão? Ora, vou mostrar-lhe do que sou capaz.
Passado: Risos e mais risos para você, compadre. Os 19 anos contigo são suficientes para medir a sua capacidade que, por sua vez, é bem inexpressiva.
Presente: Você vai ver. Deixe-me...
Passado: Já vi. Estou vendo. O mesmo garotinho impulsivo de sempre. Venha, rapaz, mostre-me a sua “grandiosa” capacidade.
Presente: Deixa para lá. Eu não queria mesmo.
Passado: Olha só o pobre coitado. Cabisbaixo, medroso, calado... o retrato que melhor ilustra o seu perfil.
Presente: Vai ficar me analisando até quando? Arreda o pé daqui. Só quero ficar em paz. Será que peço demais?
Passado: Sem mim, você não é você. Você é vazio. Sem mim, você é um livro de zero páginas, contendo zero capítulos, descrevendo zero momentos singulares. Não percebe?
Presente: Se você está dizendo. Quem sou eu para discordar?
Passado: Presta atenção. Nós podemos coexistir em harmonia.
Presente: Eu sempre fui meio individualista, companheiro. Não vai dar certo, não.
Passado: Eu te conheço bem. E, além do mais, nós podemos ser um indivíduo só, conquanto que não me negue.
Presente: Explica melhor, por favor.
Passado: Em outras palavras, eu e você, passado e presente, formaremos algo novo. Nós seremos, juntos, o futuro.
Presente: Futuro?
Passado: Exato. Seremos o futuro. O amanhã nos reserva grandes conquistas. Aceite-me, não me negue, e o amanhã será seu, ou melhor, nosso.

Convencido, o presente não mais questionou o passado. Viu o amanhã, mas talvez nunca verá o amanhã que poderia ter sido.

Um comentário:

  1. Nossa amor, parabéns!
    Esse texto ficou realmente muito bom!!
    Adorei esse jogo entre presente e passado.

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